Instituto Pensar - ?Mudar a cabeça dos economistas para desenvolver o país?, diz Peregrino

?Mudar a cabeça dos economistas para desenvolver o país?, diz Peregrino

por: Ana Paula Siqueira


Sem investimento pesado em ciência e tecnologia não há desenvolvimento possível. E isso só será possível com mudança de pensamento de políticos e economistas. É o que defende o professor Fernando Peregrino, doutor em engenharia de produção.

Ele participou da sétima live sobre a Autorreforma do PSB, nesta segunda-feira (12), que debateu o "Renascimento Criativo da Indústria?. Peregrino é presidente da Fundação COPPETEC e professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O professor é categórico na necessidade de mudança de paradigma de quem toma as grandes decisões do país.

"Vamos mudar a cabeça desses economistas? Eles estão atrapalhando o desenvolvimento desse país. Tem dinheiro, sim, se quiser desenvolver o país. Isso se faz com a gestão econômica e financeira das nossas reservas, do nosso orçamento, da nossa dívida a favor do país, e não a favor dos credores da dívida.?
Fernando Peregrino

Decisão política

Peregrino afirma que é necessário decisão política, o que requer coragem para se manter firma diante de tantos interesses divergentes. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, defende a importância da liderança política para essa mudança.

"Identificamos que a crise do Brasil começa com a crise política. Só temos condições de transformar essa realidade se mudarmos o sistema político. É necessário um partido que, sobretudo, mobilize o conhecimento, que aproxime o conhecimento científico da indústria.?
Carlos Siqueira

Vergonha internacional

Peregrino lembra que o país ocupa o 62º lugar no Índice Global de Inovação. "É uma vergonha para um país como o nosso que tem tantas universidades estar nesse lugar. A curva dos investimentos teve pico em 2013 e depois não parou de cair?, critica.

"Enquanto o mundo acelera a curva de investimentos, nós seguimos na contramão. O que está acontecendo com o Brasil é que estamos nos afastando dos países que investiram há algum tempo. Estamos piorando a nossa situação e, nos últimos dois anos, não precisa comentar?, disse se referindo ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Modelo chinês

Peregrino também acredita que modelo de industrialização do país deve se transformar para dificultar a saída de capital estrangeiro do país. Como exemplo, ele cita a prática de joint venture, como a China pratica. O que poderia evitar, por exemplo, o fechamento da fábrica da Ford.

O fechamento das três fábricas pode significar a perda de 124 mil postos de trabalho diretos, indiretos e induzidos, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

"A indústria é importante porque cria novos produtos e maiores cadeias produtivas?, ressalta.

Tríplice hélice

Para mudar esse cenário de "decadência?, Peregrino afirma que é necessário pôr em prática o conceito da tríplice hélice ? que une governo, universidades e empresas ? no investimento, desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias. O que precisa ser realizado por meio de um plano nacional de desenvolvimento, de acordo com o que propõe o PSB na Autorreforma.

"É raro ver o próprio partido fazer sua revisão e sua autocrítica?, elogia.

O professor compara o Brasil com Estados Unidos que, atualmente, tem sua economia baseada principalmente, nos produtos intangíveis, como patentes, licenças, conhecimento e o que mais envolva a indústria 4.0.

"Estamos vivendo a era do conhecimento. A terra é importante, o capital é importante, mas o conhecimento muda o país.?
Fernando Peregrino

O papel da educação

"Nossa educação básica é terrivelmente ruim. O Brasil ficou em 64º lugar no Pisa em matemática, ciência e língua?, rememora. O Pisa é um exame internacional aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em estudantes de 79 países ou territórios, em 2018.

Além disso, a ligação entre universidade e sociedade é essencial e faz parte do desenvolvimento de todos os países desenvolvidos, que investiram para fornecer conhecimento e mão de obra, defende o professor.

"Temos 50 milhões de pessoas na rede básica de ensino. Temos condições de dar estrutura boa sem dinheiro para isso? Para onde está indo esse dinheiro? Está indo para os credores?, critica.

Revolução criativa da educação

O coordenador do site Socialismo Criativo e membro da Executiva Nacional do PSB, o ex-deputado constituinte Domingos Leonelli, observa que os posicionamentos de Peregrino estão em sintonia com o que defendem os socialistas.

"Propomos uma revolução criativa na educação, com acesso inteiramente universal, gratuito e de qualidade. Consideramos um passo fundamental para a igualdade e preparação para a sociedade do conhecimento. Se o ensino básico for público, a classe média vai exigir ensino de qualidade.?
Domingos Leonelli

"A lógica do mundo digital tem que ter mão de obra aperfeiçoada, o que não temos hoje?, completa Peregrino.

Falta de investimentos e pandemia

A falta de investimentos em ciência e tecnologia prejudicou o país, inclusive, no combate à pandemia.

"Porque a gente não tem vacina? É possível produzir há muitos anos no Butantan e na Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz]. A UFRJ tem uma vacina quase pronta, mas vai faltar dinheiro até para importar insumos. Tudo isso porque faltou investimento?, pontua.

Leia também: Economia criativa tem potencial para reduzir as desigualdades

O problema das patentes

Um dos exemplos de problemas no desenvolvimento do país que poderiam ter sido evitados, de acordo com Fernando Peregrino, foi o aumento do prazo para quebra de patentes, por Fernando Henrique Cardoso. Durante seu governo, FHC ampliou esse prazo de 15 para 20 anos.

"Aparentemente, é bom. Mas, na verdade, de 20 patentes que o Brasil concede, cinco são do Brasil e 15 são do exterior. Significa que estamos patenteando lá fora o que nos será vendido como licença?, critica.

Por isso, afirma que se trata de plano estratégico ? ou da falta dele.

"FHC poderia ter esperado 10 anos para fazer valer essa regra. Mas planejamento estratégico requer força política, distribuição de recursos escassos, porque não dá para todo mundo. Mas tem que dar, sobretudo, para quem não tem?, defende.

Assista a live na íntegra



0 Comentário:


Nome: Em:
Mensagem: